Analisando os resultados obtidos alguns pontos podem ser
assinalados. Em primeiro lugar, pode-se discutir o que representa a
escada finita e positiva tanto na rede Euclidiana quanto no limite do
contínuo na teoria livre. A interpretação que podemos tirar é a
existência de uma onda plana propagando-se (onda plana porque tem
momento
bem definido e portando posição indefinida) e
partículas sendo ``carregadas'' nela: nenhuma partícula representa o
estado de vácuo, uma partícula de massa m representa o estado de uma
partícula, duas partículas de massa m representam o estado de duas
partículas e assim por diante. Esta análise na rede aparece para
qualquer modo. Já ao se tomar o limite do contínuo alguns modos são
selecionados, aqueles para os quais a escada sobrevive com degraus
positivos, finitos e não-nulos, ditos
modos on-shell.
Na teoria interagente aparece outro resultado interessante: a
reprodução dos resultados da teoria livre apenas com a substituição
.
Este é um indicativo da trivialidade
da teoria em d=4 pois representa novamente apenas a propagação de
ondas planas. Fica em aberto a pergunta sobre qual tipo de interação
seria não trivial, no sentido de não mais reproduzir a escada no
limite do contínuo. Uma resposta emergente é que a inclusão em teorias
com derivadas de termos com auto-interações locais nos campos não é
uma mudança suficientemente forte para quebrar este
comportamento. Assim, a procura de uma teoria não trivial indica a
necessidade de outras formas de interação, ou seja, interação entre
diferentes tipos de campos. Um exemplo paradigmático deste tipo de
estrutura é a eletrodinâmica quântica.
Vale também discutir a dificuldade encontrada na definição de uma única Hamiltoniana para quaisquer tipos de modos na rede, que indica uma possível continuidade deste trabalho: a análise de um modelo com cargas elétricas, por exemplo o campo escalar carregado no qual o campo é complexo. Neste caso teríamos que modificar a definição dos ensembles de partículas de forma a diferenciar partículas com cargas diferentes.
Com a definição de ensembles apropriados e a construção dos observáveis por analogia com a teoria clássica, verificamos que é possível discutir os conceitos de energia e de número de partículas em uma rede Euclidiana. O gráfico (5.9), mostrando que o número de partículas torna-se inteiro na imediações da linha crítica do modelo não-linear, é particularmente interessante.
Observe-se também que os estados definidos aqui são objetos intrinsecamente quadridimensionais. No âmbito destas idéias o conceito de estado num tempo bem definido só aparece de forma aproximada, dentro de uma caixa quadridimensional com extensão temporal pequena mas não-nula.
Finalizando, algumas das dificuldades técnicas encontradas nos induzem
a pensar em simular diretamente não apenas o estado de vácuo e sim os
estados com
partículas. Para isso precisamos utilizar outro
algoritmo de geração das configurações com uma distribuição dada não
mais por e-S e sim por
.
Desta maneira os erros encontrados para os observáveis
de n partículas diminuiriam consideravelmente. Tais algoritmos
existem, mas não são particularmente eficientes, devido ao fato de que
o fator
é
profundamente não local no espaço de coordenadas, conflitando desta
forma com o caráter local das atualizações estocásticas da ação
S. Temos aqui, desta forma problemas técnicos semelhantes àqueles
que se encontra para a simulação de Férmions dinâmicos. Esta faceta
técnica representa outra direção importante de desenvolvimento para
futuros trabalhos.