O formalismo canônico [4] parte do modelo da Mecânica Clássica, definindo inicialmente a Lagrangiana que rege o sistema, os campos clássicos e os seus respectivos momentos conjugados. Em sua forma mais usual, este formalismo é examinado no âmbito da linguagem tradicional da Mecânica Quântica, onde estados são representados por vetores em um espaço de Hilbert e observáveis por operadores neste espaço. A quantização canônica é realizada aplicando-se as relações de comutação aos campos e seus momentos conjugados. Com o uso destas definições podemos estudar a energia do sistema através de sua Hamiltoniana.
No formalismo de integração funcional [5] os observáveis são
escritos em termos das funções de Green
,
onde
são vetores posição no espaço-tempo, Z(J) é
o funcional gerador das funções de Green definido como
J são as fontes externas e
é tomado de forma que
Z(0)=1. A integração funcional que se vê aqui é uma operação formal,
que se assume ter as propriedades usuais de uma integração.
Reescrevendo a equação (2.1) depois de tomadas as derivadas funcionais temos
Como exemplo temos a função de Green de dois pontos,
Os observáveis da teoria neste formalismo devem portanto ser
calculados em termos das integrais funcionais acima. Existem
entretanto poucos casos onde este tipo de integral é solúvel
analiticamente. Um deles é a teoria do campo escalar real livre. Neste
modelo conseguimos calcular exatamente as funções G(n) desde que
executemos uma rotação de Wick (
), o que nos leva ao
espaço Euclidiano onde a exponencial não oscila. Os
resultados obtidos são interpretados através de extensão
analítica, retornando para o espaço de Minkowski, onde podemos obter
as interpretações físicas da teoria.
Já para o caso da teoria interagente não conseguimos calcular
exatamente as funções G(n). No caso da Teoria Quântica de Campos
no contínuo resta como única possibilidade de análise o
desenvolvimento de uma teoria de perturbações em torno da teoria
livre. O exemplo notório desta abordagem perturbativa é a
eletrodinâmica quântica, onde o cálculo perturbativo prediz os
valores experimentais com grande precisão.
Cada uma das abordagens acima encaminha o estudo quântico para uma determinada direção. Nesse processo, aspectos da teoria abordados em um dos formalismos muitas vezes não podem ser observados de maneira trivial no outro formalismo. Por exemplo, a construção de um Espaço de Hilbert a partir da definição da teoria na rede é uma conquista não trivial, realizada por Osterwalder e Schrader ([2], [3]).
Outro exemplo é o conceito de energia. No formalismo canônico ele aparece naturalmente e até implica em características importantes dos sistemas, como a necessidade de relações de anti-comutação para férmions. Este conceito, porém, é obscuro no formalismo de integração funcional porque implica em cálculos difíceis de se realizar. Mais ainda, o conceito de partícula não surge naturalmente. Ele aparece indiretamente, estando sua massa relacionada com o pólo de um de seus observáveis, o propagador.
O objetivo deste trabalho é estudar estes conceitos no formalismo da rede Euclidiana, que está diretamente relacionado com o formalismo de integração funcional.